quarta-feira, 14 de julho de 2010

Inferno Astral

Tudo faz mal
Dizem que é preciso não voltar-se pra si
Estão loucos
30 dias do jeito que o diabo gosta
Nada faz sentido
Hora de repensar o que não foi pensado
De projetar o que não pode ser domesticado
De mentalizar o que de mais mediano lhe convém
Hora de fazer um samba, meu amor

terça-feira, 13 de julho de 2010

Fragmento de uma escolha

Eu quero aquilo ali.
Ali onde são abrigadas calorosamente, com o maior dos peitos completamente aberto, nossas vontades mais sorrateiramente encobertas. Ali, que é o parque de diversões daqueles que estão cansados do furacão de hipocrisia que tem um epicentro bem diante de nossos narizes.
Eu quero aquilo que não tem nome.
Aquilo que deliciosamente roça meus lábios com sabor de perigo. O mel de tudo aquilo que não está aqui. Porque se aqui estivesse seria óbvio, enfadonho, careta.
Escolher é como pintar um quadro, filmar um plano, conceber uma cena. É um posicionamento frente a tudo. E assim, aproximamo-nos daquilo que nos é essencial através do que essencialmente é invisível, sagrado e profano.
Mas as escolhas são cruéis. Escolher uma rosa é antes de qualquer coisa deixar de escolher o restante do jardim.
Ali está o que pertence não a mim, mas ao que quero.

Camisa 10

Nos tempos de moleque com calça frouxa, sonhava em ser o camisa 10. A inspiração vinha de Pelé, Roberto, Zico (mesmo vestindo vermelho e preto), Romário ( ele gosta da 11, mas pra mim sempre foi o 10) e até Maradona. Quantas jogadas maravilhosas no Maracanã de meus sonhos já fiz, quantos gols no de título no último minuto... e tudo isso para no fim gritar, é isso mesmo: gritar! E depois ver a multidão gritando, o êxtase em estado pleno. Ah, quem conhece o futebol.

Como não seria o 10 do time, no máximo o 5, decidi pendurar as chuteiras - sem tempo inclusive para deleites com as Marias. O fluxo da vida levou-me para a faculdade federal, nada mais nobre e honrado para um cidadão de classe média e mentalidade mediana. Aí foi duro, não tinha mais gol de bicicleta! Tudo era tão esquemático, padronizado, pragmático. A burocracia, a mediocridade e o horizonte completamente restrito reinavam em solo acadêmico. Quanta saudade das peladas de rua.

Experimentação, transgressão, rompimento, desbravamento, e por vezes o radicalismo habitavam, dentro e fora, o ex eterno guri. Mas a receita dessa feijoada não tava certa, tinham errado na mão. Dor de barriga na certa!

Decidi me jogar, tentar driblar o zagueiro, memso sabendo que poderia encontrar um Mauro Galvão ou um Bellini pela frente. Fui pra rua, sem lenço, sem documento ( apenas com minha carteira de "meia-entrada") e com o grito entalado na garganta.

Não poderia chegar a outro lugar que não fosse aquele. Ali onde posso andar descalço e sem camisa como nos tempos de golzinho na Maestro - minha rua querida. Desde então, tudo mudou. Tenho a real certeza, absolutamente incerta, do que fui, deliciando-me exatamente com o sabor de não saber o que serei.
Tempo, tempo, tempo... Quero ficar Homem velho de Caetano, sem deixar de ser Odara.

É clara e evidente a transformação do gurizinho daqui, o corpo fala de outra forma, a experiência com o coletivo tem outro caráter que não o simples enchimento de uma sala de aula. A troca com o parceiro se faz necessária para a realização do trabalho.
Trabalho! Taí, já respiro o ar de um trabalhador. Mesmo que minha carteira empoeirada não tenha sido assinada. Não preciso. A assinatura própria faz de mim um operário.

E o grito, aquele que andava perdido, achou o lugar apropriado para ecoar: o palco! Esse que nos tempos de menino oniricamente era um gramado verde, agora tem outra cara. Tem cheiro de madeira, de cimento velho, de praça cheia... Mãe, seu filho achou no Teatro a maneira de ser o camisa 10.