O ponteiro das horas marcava as mesmas de ontem, o dos minutos os mesmos de ontem, os segundos não. Uns 45 deles estavam atrasados.
O dia foi igual ao de ontem, saí as 7, desci as escadas para não esperar de mais ou de menos pelo elevador, levei já trocado o dinheiro da passagem e sentei-me ao mesmo banco, o mais próximo a saída e na poltrona que não dá para a janela.
As mesmas planilhas, o mesmo café, o almoço de quinta de sempre, os mesmos meio-sorrisos, as mesmas iminentes greves, os e-mails respondidos e os não-respondidos de sempre. O cartão batido na mesma hora. A mesma guerra pra subir e descer do ônibus de volta. Não entendo esses 45 a mais.
Em casa foi igual. Primeiro o sapato direito, depois o esquerdo. Paletó que se vai, gravata que se afrouxa, corpo que tomba na cama.
Roupa ao cesto, banho morno, toalha branca que repete o ritual: cabeça, rosto, peito, costas, sexo, pernas e pé.
Janta já feita pela empregada, que vai ao microondas nos mesmos 1:23 e louça deixada de lado para o seguinte dia.
A meia-luz, o vinho na taça, o jazz ao fundo e a leve abertura da persiana japonesa.
Os 45 excedentes gritam em meu peito quando olho pra rosa. Hoje foi dia de passar pela floricultura.
Sem os espinhos, ela fica bem em minha mão. Vou até a janela e ela desponta na esquina: Inconfundível.
Os cabelos em sua assimetria perfeita, o jeans surrado ao ponto, o cigarro que ganha vida na boca delicada, o corpo em assertivo prumo e o olhar que de súbito acerta o meu.
Fecho com força e desespero como de sempre a janela, estatelo-me na poltrona e como de costume pego o copo metade cheio e metade vazio de água e mando pra dentro o calmante.
Olho para rosa que teima em não largar a minha mão e por fim acho a sua morada dos próximos 7 dias, um jarro com água.
Mais uma semana sem atrasos.
que lindo meu velho...
ResponderExcluirque lindo...
uma rosa pra vc, sempre...